É a vocação da resistência irredutível. Resistir é avançar. Fortalecer a alma de todos os cubanos, de todas as mulheres cubanas. Os símbolos que nos movem darão origem a uma cultura de responsabilidade, de sentido de pertença, de unidade. Esta é a forja e o destino da nossa identidade.
Ao longe, por entre as rajadas de inverno que pairavam sobre o espírito e a anatomia desta criatura nascida lá longe, numa ilha ainda de destino improvável, o poeta foi tomado por uma imagem poderosa: "as palmeiras, oh, as palmeiras deliciosas...".
Sabe-se que os Bayamenses, quando conquistaram a liberdade e sentiram o cerco implacável dos exércitos colonialistas, não hesitaram em incendiar a cidade oriental. Eusébio Leal contou, com o verbo ardente que ninguém como ele dominava plenamente, que o comandante em chefe das forças espanholas, ao chegar ao centro do local, leu entre as cinzas as palavras: "Plaza de la Revolución" (Praça da Revolução).
Mais de um século depois, diante das muralhas de Moncada, o trovador encarnava a voz de um povo determinado a defender contra todas as adversidades o destino que lhe tinha sido dado: "Morro como vivi", cantámos com ele, quando a crise dos anos 90 ainda não se tinha desencadeado com toda a sua intensidade.
Imagens como símbolos de uma vocação irredutível de resistência. A mesma que, no auge da terceira década do século XXI, se renova no meio de tremendas dificuldades. Uma resistência que se renova perante a intensificação da hostilidade imperial contra Cuba, os efeitos da crise económica mundial e dos graves conflitos armados, e as distorções e erros na execução e acompanhamento dos processos internos. Uma resistência que nos recorda como, em momentos críticos semelhantes, Fidel fez um apelo determinante: "A cultura é a primeira coisa a ser salva".
Se alguém pensou que se seguiria um apagão cultural, enganou-se em todos os sentidos da palavra. Mês após mês, 2023 foi um ano em que concertos, recitais, produções teatrais, espectáculos de dança, apresentações literárias, de Leste a Oeste, mantiveram viva a chama da cultura.
Não se trata apenas de dias de significado concentrado, como a Feira Internacional do Livro Cuba 2023, ou as acções para o Dia da Cultura Cubana em Outubro, ou a celebração do 75º aniversário do Ballet Nacional de Cuba, ou a incombustível Fiesta del Fuego em Santiago de Cuba, ou as Romerías de Mayo em Holguín, ou o renascimento de La Guarapachanga em Pinar del Río, e o bem sucedido Festival do Novo Cinema Latino-Americano, no qual algumas pessoas não apostaram.... mas do que se está a conseguir com um esforço diário, através da aplicação coerente da política cultural da Revolução, que prevê a correcção dos erros.
Sob o título de inspiração fidelista Semeando Ideias, Semeando Consciência, o programa contra a descolonização cultural é um dos marcos fundamentais do ano que está a terminar. Foi lançado a 28 de Janeiro, coincidindo com o 170º aniversário do nascimento de José Martí. Representantes da nossa vanguarda artística e intelectual participaram na elaboração das primeiras teses e linhas de acção. Ao fazê-lo, responderam a abordagens, preocupações, ideias e propostas debatidas ao longo dos últimos anos.
Para Fidel, como observou Abel Prieto, a cultura é "uma energia transformadora de alcance excepcional, que está intimamente ligada à conduta, à ética, e é capaz de contribuir decisivamente para o "aperfeiçoamento humano" em que Martí tanto acreditava". Na cultura ele viu, e nós devemos ver, o caminho para alcançar a emancipação plena: aquela que oferece a possibilidade de defender a liberdade, a memória, as origens, e de desfazer a vasta rede de manipulação que paira sobre a realidade cubana.
O sistema institucional da cultura tem sido submetido a duras provas, não só as derivadas da falta de recursos técnicos e materiais, mas também de algo muito mais grave: como parte da subversão ideológica e da guerra cultural dos inimigos da Revolução, dentro e fora do país, há quem esteja a trabalhar para desmantelar, ou pelo menos desacreditar, esse sistema. O seu objectivo é quebrar a unidade entre o movimento artístico e intelectual e as instituições culturais.
O diálogo permanente e frutífero entre criadores e dirigentes institucionais atingiu o seu ponto mais alto este ano com o processo que conduziu ao IV Congresso da Associação Hermanos Saíz e ao seguimento dos acordos e propostas do último Congresso da Uneac.
Um dos desafios mais colossais reside na sustentação do ensino das artes. Das escolas primárias à Universidade das Artes, ainda que a especialização exija recursos dispendiosos, o mais importante nos últimos anos, e 2023 não é excepção, é articular valores éticos, estéticos e identitários que resultem na formação integral dos futuros artistas.
O impacto da política cultural no tecido espiritual da nação apresenta hoje os seus maiores desafios em duas áreas que se entrelaçam: a dimensão comunitária e a dimensão mediática. Embora longe de atingir os objectivos pretendidos, as acções comunitárias, renovadas na sequência dos programas de transformação dos bairros e enclaves dos municípios, os artistas, os formadores e os promotores de arte manifestaram o seu empenho na emergência de uma nova subjectividade à escala individual e social.
No âmbito dos meios de comunicação, com especial ênfase agora que as novas tecnologias e as plataformas de socialização entraram em cena, a cultura artística e literária cubana deve necessariamente projectar-se de uma forma muito mais proactiva.
Resistir é avançar. Fortalecer a alma de todos os cubanos, de todas as mulheres cubanas. Os símbolos que nos movem darão origem a uma cultura de responsabilidade, de sentido de pertença, de unidade. Esta é a forja e o destino da nossa identidade.
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