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A queda da Síria às mãos de forças armadas pró-ocidentais

A Síria, tal como a Líbia, desaparecerá como Estado unificado e fragmentar-se-á numa guerra civil sem fim, com diferentes territórios controlados por diferentes grupos étnicos e potências imperialistas.

O que aconteceu na Síria é uma grande derrota para o eixo da resistência. A Síria será balcanizada em fragmentos como a Líbia e sucumbirá a uma guerra civil sem fim, enquanto os imperialistas (como na Líbia) roubam o seu petróleo diariamente.


Não podemos celebrar a substituição de Assad pelo Daesh/Al-Qaeda na Síria, como a pseudo-esquerda e alguns nacionalistas sírios estão a fazer com o mundo imperialista ocidental. Isto não foi uma continuação das revoltas árabes de 2011. Não houve uma revolta popular contra Assad. Tratou-se de uma invasão combinada com um golpe imperialista/sionista/otomanista.


Obviamente, entre sanções e bloqueios, aliados à natureza despótica do regime de Assad, o seu governo estava esgotado e tinha uma fraca legitimidade popular após uma década de guerra civil. O HTS, o grupo terrorista que tomou o poder, é uma fusão do Daesh e da Al-Qaeda. O perigo de invasão foi subestimado pelo próprio Assad, que soube por fontes iranianas, alguns meses antes da sua queda, que um contingente militar terrorista estava a ser organizado no lado turco da fronteira com a ajuda da NATO, de “Israel” e do Presidente turco Recep Erdogan. Este último mentiu quando questionado pelo governo sírio, há algumas semanas, sobre os movimentos militares no lado turco da fronteira e negou que houvesse qualquer perigo de invasão da Síria.


Houve também traição por parte de alguns generais importantes do exército sírio. Após a rendição e a desmobilização do exército sírio face à invasão e à derrocada iminente, foi então alcançado um acordo entre Assad, os generais do exército sírio, o Irão e a Rússia com os terroristas do HTS para que a invasão takfiri tomasse conta do Estado de forma pacífica, sem combates ou confrontos militares.


O Irão, a Rússia e o eixo da resistência não tiveram outra alternativa senão negociar e não intervir perante a falta de vontade de Assad e do seu exército para contra-atacar e combater a invasão takfiri da NATO. 


Dez anos de guerra imperialista e de sanções tiveram o seu preço na Síria. Um exército como o da Síria, onde os generais mais bem pagos ganham 40 dólares por mês, presta-se facilmente à corrupção e à traição. Em termos de moral, é difícil competir com um exército de 30.000 a 50.000 mercenários terroristas pagos pelos imperialistas e sionistas com salários entre 1.000 e 2.000 dólares por mês.


Mas o problema não é apenas monetário, é também ideológico. O regime de Assad é um regime que não promove a consciência crítica nas suas fileiras. A desmoralização e a corrupção do exército sírio não lhe permitiram ter a coragem de iniciar uma nova guerra civil. Milhares de soldados desertaram quando viram a traição dos seus líderes. No fundo, o exército terrorista apoiado e organizado por Erdogan, por “Israel” e pela NATO, caminhou desde a fronteira turca até Damasco sem confrontos nem resistência militar. Os vencedores são Erdogan, Netanyahu, Qatar, os emirados e os imperialismos norte-americano e europeu com total apoio da NATO.


A queda de Assad é uma derrota muito, muito importante para o eixo da resistência. Ninguém gosta do governo de Assad, mas temos de olhar para o contexto geopolítico global imperialista/sionista. O regime de Assad, apesar das suas tendências despóticas, representava a defesa da soberania e a existência de um Estado sírio unificado aliado ao eixo da resistência. A sua queda é um golpe para a resistência e levará à fragmentação do território em pedaços semelhantes aos do Iraque e da Líbia. Os imperialistas não gostam de Estados fortes que lhes façam frente. 


A resistência no Líbano e na Palestina vai agora ser muito mais difícil. O corredor de armas do Irão para o Hezbollah através da Síria termina com a queda de Assad. O Hezbollah está agora mais isolado e encurralado do que nunca, incapaz de substituir facilmente as suas armas, mísseis e balas. Ficará significativamente enfraquecido. No entanto, o Hezbollah já demonstrou em muitas ocasiões no passado a sua capacidade de ultrapassar dificuldades e desafios. 

Tudo isto constitui um rude golpe para a resistência palestiniana em Gaza, que terá agora de enfrentar ainda mais desafios e dificuldades face a um genocídio brutal.

A Síria, tal como a Líbia, desaparecerá como Estado unificado e fragmentar-se-á numa guerra civil sem fim, com diferentes territórios controlados por diferentes grupos étnicos e potências imperialistas. A partir de agora será muito mais fácil para “Israel” promover a limpeza étnica da Palestina. No mesmo dia da queda de Assad, “Israel” apoderou-se de mais território no sul da Síria e destruiu todo o arsenal de armas do eixo da resistência bombardeando todo o território sírio.


Os perdedores são o eixo da resistência, o mundo multipolar, o Irão, a China, os cristãos sírios, os xiitas sírios, os libaneses, os palestinianos e a Rússia. Embora tudo indique que a Rússia, vendo o exército de Assad a entregar territórios aos terroristas sem combate militar, fez um pacto com os takfiris que agora protegem a segurança das bases militares russas na Síria.


Além disso, a diplomacia russa apoiou activamente a chegada “pacífica” dos takfiris e as negociações para convencer Assad a abandonar o país. Era impossível e insustentável para a Rússia e o Irão entrarem numa guerra sem o envolvimento do exército sírio. Além disso, parece haver um realinhamento russo diferente na região. Parece que a Rússia está a aproximar-se da Turquia e a afastar-se do Irão. Mas esta última hipótese ainda não foi confirmada.


Outra afectada é a Rota da Seda da China, que neste momento está parada à espera de uma porta de entrada para o Mar Mediterrâneo. O Ocidente posiciona agora “Israel” como o novo epicentro do comércio entre a Ásia e a Europa/Mar Mediterrâneo. 

Erdogan é o grande traidor em toda esta disputa e o genocida Netanyahu é o grande vencedor. Há uma mudança radical em toda a geopolítica do Médio Oriente. Há lições a tirar dos erros cometidos pelo eixo da resistência, mas esse é um tema para outra conversa. Esta última é uma conversa necessária porque os movimentos de resistência precisam de aprender com os erros para fazerem melhor da próxima vez. A luta continua....

Fonte:

almaayden

Autor:

Ramón Grosfoguel

Ramón Grosfoguel Ph.D. Universidade de Temple

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