A alma de uma nação que nunca se contentou em viver acorrentada tinha de ser sacudida e aguardava impacientemente o impulso enérgico dos seus melhores filhos.
Vistas de longe, as muralhas do Quartel de Moncada poderiam ser demasiado inexpugnáveis para que se pudesse conceber um assalto vitorioso às primeiras horas da manhã, com forças e armamento inferiores aos do quartel. Seria então uma missão suicida? Seriam aventureiros os jovens que empreenderam tão perigosa acção? Ambas as perguntas poderiam ter deixado margem para dúvidas, não fosse a resposta que a história deu mais tarde a cada uma delas.
Entre o grupo de jovens assaltantes não havia ninguém que tivesse chegado ali motivado por outro sentimento que não fosse o amor a Cuba e a profunda dor que envolvia os cubanos num pesadelo de opróbrio sem limites. É verdade que, como todos os verdadeiros revolucionários (Che defini-lo-ia melhor mais tarde), contemplaram a possibilidade de morrer na tentativa, mas a aposta na vida e nos sonhos era muito maior do que a infeliz ideia de cair em combate ou, pior ainda, de receber o tratamento atroz que se abateu sobre aqueles que foram capturados e depois massacrados.
A extraordinária sensibilidade humana e a inteligência de Fidel não teriam concordado com um plano sem hipóteses de sucesso, e muito menos teria pensado em arriscar em vão camaradas tão valiosos, e até em expor a sua própria integridade, quando sabia perfeitamente que a sua missão política e as suas energias estavam destinadas a objectivos maiores.
A sua confiança no êxito e no impacto histórico dos acontecimentos prevaleceu sempre. Tanto assim que a derrota militar se tornou o detonador de Marti para sacudir, de uma vez por todas, a insuportável crosta de politicagem e vícios que corroía os alicerces da nação.
A urgência de partir para o assalto, em inferioridade numérica e correndo grandes riscos, foi expressa pelo futuro líder histórico da Revolução dias depois desse 26 de Julho, no seu apelo histórico A história absolver-me-á: "Parecia que o Apóstolo ia morrer no ano do seu centenário, que a sua memória se extinguiria para sempre, tal era a afronta!".
Era chegada a hora da Revolução, e deixar passar despercebida essa maturidade histórica ou adiar o compromisso com a pátria, à espera de oportunidades menos arriscadas, significava uma tibieza de carácter completamente alheia a quem, a partir de agora, pensava mais na pátria do que no conforto pessoal.
Era preciso tomar de assalto as fortalezas e, com esse ato heroíco, fazer soar o toque de clarim para fazer renascer a alvorada de Mambisa, há demasiado tempo silenciada. Era necessário abanar a alma de uma nação que nunca se contentou em viver acorrentada e que aguardava impacientemente o impulso enérgico dos seus melhores filhos.
Sem aquele julho vermelho e negro, sem aquele sangue derramado há 70 anos, a história não estaria completa, e a letargia indigna da pseudo-república teria agarrado a soberania que, depois de Moncada, começou a ser uma realidade, e que hoje defendemos como a melhor homenagem aos heróis desse ato heroíco.
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