Cuba e o Imperialismo dos EUA
Desde a dissolução ilegal da União das Repúblicas Socialistas Soviéticasem 1991, os Estados Unidos encontram-se numa situação quase hegemônica nível mundial. Pairou durante muito tempo, a sensação de que o seu império continuaria a expandir-se infinitamente clamando a velha ladainha do excecionalismo americano e do seu dever divino de trazer “liberdade e democracia” ao mundo através do capitalismo liberal dando início a uma nova era: a Pax Americana.
Cientistas políticos e economistas como Francis Fukuyama chegaram até a declarar o “fim da história” com os EUA cumprindo o seu destino derradeiro e assumindo o papel de líder mundial. Contudo, nos últimos anos, esta narrativa tem vindo a colapsar, seja pelo crescente poderio político e económico da China e sua iminente ultrapassagem dos Estados Unidos, as constantes crises inerentes ao modo de produção capitalista ou a crescente popularidade de movimentos fascistas “anti-sistema" nos países imperialistas e dos movimentos comunistas nos países neo-coloniais, o Império Americano dá sinais, não de crescimento e prosperidade mas sim de uma potência em colapso que tenta agarrar ao máximo o poder que lhe escapa por entre os dedos.
Nisto entra Cuba, uma nação Antilhana com pouco mais de 11 milhões de habitantes que, não fosse um único acontecimento na sua história, se teria mantido praticamente desconhecida à maioria. A 26 de Julho de 1953, Fidel Castro juntamente com outros 120 homens, ataca a caserna militar de La Moncada em Santiago de Cuba, dando início ao processo revolucionário comunista que poria fim à ditadura de Fulgêncio Baptista instaurada pelos americanos.
Essa revolução levou à instalação da democracia cubana e de uma economia socialista bem como grandes avanços na área dos direitos humanos e subida de qualidade de vida para o seu povo. Esta revolução fez dela um ponto estratégico essencial para a expansão dos movimentos comunistas na América Latina.
Isto não agradou aos EUA que temiam que esta revolução se espalhasse e tentaram ao máximo derrubá-la através de intervenções militares, 638 tentativas de assassinato do presidente cubano, golpes de estado e um bloqueio comercial, económico e financeiro de mais de 60 anos que se mantém até hoje. Este bloqueio é classificado pela ONU como ilegal e a votações feitas na sua assembleia geral para passar uma resolução que acabasse têm sido aprovadas consecutivamente nos últimos 29 anos, com a última tendo apenas votos contra dos EUA e Israel mas tendo os seus apelos ignorados e até contrariados pelo primeiro.
Junto com o bloqueio que estrangula o país acumulou-se agora a pandemia de Covid-19 que, apesar de ter sido gerida de maneira exemplar pelo governo cubano, abalou ainda mais a economia.
O turismo (a principal fonte de receita da ilha) foi o sector mais prejudicado. Cuba tinha tido em 2019, 4,2 milhões de turistas e em 2020 esse número desceu para 980 mil provocando uma queda de 8,5% no PIB. Enquanto isso o preço dos alimentos teve uma subida de 40% a nível global, o que se tornou mais um factor debilitante para a economia de uma nação que importa 70% dos seus alimentos e cujo sector agrícola tem sido afectado por secas persistentes. Este conjunto de circunstâncias criou algum mal-estar social que levou que a 11 de Julho de 2021 parte da população saísse à rua para protestar a situação.
Os Estados Unidos viram nesses protestos uma oportunidade de pôr em marcha a segunda fase de um plano que já tinha vindo a ser& executado desde 2018 pelas suas agências governamentais com o objectivo de instigar uma “Primavera Cubana” ao estilo do que decorreu no mundo árabe em 2011 para “subverter o regime comunista" e rapidamente tomou controlo dos protestos.
Isto foi auxiliado pela imprensa que omitiu as razões reais das manifestações e mentiu acerca da dimensão das mesmas. Foi também lançada, como parte desse plano, uma operação de grande escala nas redes sociais em que milhares de contas falsas foram criadas com o objectivo de espalhar sentimento pró-americano e desinformação acerca da situação em Cuba juntamente com mensagens de apoio ao bloqueio.Em reacção a tudo isto, muitas pessoas saíram à rua numa contra-manifestação a uma escala nacional superior à dos protestos referidos anteriormente mas que neste caso não recebeu qualquer cobertura mediática relevante.
Muitos políticos americanos e europeus mostraram o seu apoio aos movimentos pela liberdade em Cuba" com alguns até sugerindo uma intervenção armada no país. Após algumas semanas, a frequência das reportagens sobre a situação reduziu, e esta parecia ter perdido a atenção dos políticos americanos.
Isto na verdade não correspondia à realidade pois apesar de não se manterem tão vocais sobre a matéria, os ianques prosseguiram com a execução do seu plano continuando a organização de protestos tanto na ilha como no seu próprio país.
No princípio de Outubro, fizeram públicas as suas intenções de realizarem uma manifestação “pacífica” em Novembro com o objectivo de proporcionar a “transição democrática” em Cuba.
Este anúncio causou descontentamento nos líderes cubanos que consideraram a manifestação inconstitucional. Para provar essa alegação citaram o artigo 4 da Carta Magna cubana “O sistema socialista que ratifica esta Constituição é irrevogável” e também o artigo 229 “As decisões sobre a irrevogabilidade do sistema socialista estabelecido artigo 4 e a proibição de negociar nas circunstâncias previstas na alínea A do artigo 16 não podem, em caso algum, ser reformadas ”demonstrando que de acordo com a constituição do país são ilegais quaisquer tentativas de subversão do seu sistema político através de manifestações com o objectivo de destruir o seu projecto socialista e promover os interesses económicos de potências estrangeiras, descrição na qual se enquadra a manifestação referida anteriormente. Por essa razão, o presidente da câmara de Havana Vieja enviou para o principal organizador da manifestação esta resposta ao pedido para a realização da mesma.
Isto ganhou de novo a atenção dos meios de comunicação social que reportaram no acontecimento como sendo uma tentativa por parte do governo cubano de impedir uma manifestação legítima e que demonstrava que tinham medo de ouvir a “verdadeira” vontade do povo ignorando completamente o papel dos EUA na situação. Chegamos então à situação actual em Cuba.
Mas então que conclusão devemos tirar de toda esta situação?
É importante, no fundo, olhar para os acontecimentos que tiveram lugar em Cuba com o contexto necessário e entender que o governo plutocrático dos Estados Unidos não pretende de qualquer maneira defender os direitos do povo cubano mas sim fazer cair aquela que é, actualmente, a pedra angular do comunismo na América Latina de forma a tentar assim evitar ou adiar a eventual queda do capitalismo global e, por consequência, do seu império.