Esta reflexão, escrita pela recém-eleita presidente do México, foi publicada na segunda-feira, 12 de Janeiro de 2009, na secção El Correo Ilustrado do jornal La Jornada. Pela sua total e completa validade, à luz dos acontecimentos em Gaza e do genocídio que "Israel" continua a cometer nessa terra palestiniana, reproduzimo-la no nosso site.
Venho de uma família judia e tenho orgulho nos meus avós e nos meus pais. A minha avó paterna, exilada da Lituânia por razões económicas e raciais, veio para o México com parte da sua família na segunda década do século XX. O meu avô paterno veio para o México por volta da mesma altura, também exilado da Lituânia, por razões políticas e raciais: era judeu e comunista.
Os meus avós maternos vieram para o México para fugir da perseguição nazi. Foram salvos por um milagre. Muitos dos meus familiares dessa geração foram exterminados em campos de concentração. Ambas as famílias decidiram fazer do México a sua pátria. Fui educada como uma mexicana. Amando a sua história e o seu povo. Sou mexicana e é por isso que luto pela minha pátria. Não posso nem quero negar a minha história, pois isso seria, como diz León Gieco, negar a alma da vida. Mas também sou uma cidadã do mundo, por causa da minha história e porque acho que é assim que deve ser.
Refiro-me, claro, aos homens e mulheres libertários, humanistas, não racistas, que lutam pela paz... "Imagine", como escreveu John Lenon. Por isso, pela minha origem judaica, pelo meu amor pelo México e porque me sinto cidadã do mundo, partilho com milhões de pessoas o desejo de justiça, de igualdade, de fraternidade e de paz e, por isso, não posso deixar de ver com horror as imagens dos bombardeamentos do Estado israelita em Gaza... Nenhuma razão justifica o assassinato de civis palestinianos... Nada, nada, nada, pode justificar o assassinato de uma criança. É por isso que me associo ao grito de milhões de pessoas em todo o mundo que pedem um cessar-fogo e a retirada imediata das tropas israelitas do território palestiniano. Como disse Alberto Szpunberg, poeta argentino, numa carta recente: "é disso que se trata: salvar um mundo, este mundo único e angustiado que todos habitamos, que é de todos e que hoje se chama Gaza".
Fonte: