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Presidente de Honduras convoca mobilização nacional contra fraude eleitoral

Desde a última terça-feira, a presidente Xiomara Castro classificou o processo como «elitoralmente nulo» e apelou à defesa da ordem constitucional.

A presidente de Honduras, Xiomara Castro, convocou nesta quarta-feira o povo hondurenho para uma mobilização nacional e pacífica nas imediações da Casa Presidencial, em Tegucigalpa, diante da denúncia de um suposto golpe de Estado e golpe eleitoral em curso, que —afirmou— conta com a participação do ex-presidente Juan Orlando Hernández, condenado por narcotráfico, e a interferência directa dos Estados Unidos.

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A convocatória, divulgada pelo Partido Liberdade e Refundação (Libre) e apoiada por organizações sociais, juvenis, populares e operárias, apela à defesa da ordem constitucional, da democracia e do mandato popular, face ao que o Governo qualifica como uma operação destinada a ignorar a vontade expressa nas urnas nas eleições gerais de 30 de novembro passado.

Numa mensagem publicada posteriormente na rede social X, a mandatária assegurou que informações verificadas pelos serviços secretos revelam um plano para proclamar ilegitimamente um vencedor eleitoral sem que tenha sido realizada a contagem voto a voto de todas as atas, uma exigência sustentada por sectores políticos e sociais do país.

Castro denunciou que o perdão concedido pelo presidente Donald Trump ao ex-presidente Juan Orlando Hernández faz parte de uma estratégia de pressão e intervenção nos assuntos internos de Honduras, e alertou que o ex-governante pretenderia entrar no país para validar um resultado eleitoral fraudulento, a favor do candidato do Partido Nacional, Nasry Asfura.

«O golpe eleitoral foi construído com medo, ameaças e fraude», afirmou o Partido Libre, ao denunciar a manipulação do sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP), o terrorismo mediático e a intromissão estrangeira como elementos centrais de uma agressão contra a soberania nacional.

Perante esse cenário, a presidente solicitou o apoio consciente, firme e pacífico do povo hondurenho e convocou uma manifestação em massa para mostrar à comunidade internacional que, quase 16 anos após o golpe de Estado de 2009, há uma tentativa de nova ruptura institucional em Honduras.

A chefe de Estado sublinhou que o seu governo deve concluir o seu mandato constitucional no próximo dia 27 de janeiro e advertiu que qualquer tentativa de alteração da ordem democrática será enfrentada com mobilização popular e respeito pela legalidade.

Em resposta às denúncias, as Forças Armadas expressaram publicamente a sua lealdade à presidente e à Constituição, descartando qualquer participação em acções desestabilizadoras. O chefe do Estado-Maior Conjunto, Roosvelt Hernández, afirmou que «não haverá nenhum golpe» e garantiu que a instituição militar garantirá a estabilidade e a alternância democrática.

O alto comando militar advertiu ainda que qualquer membro das Forças Armadas envolvido em conspirações será afastado da instituição e reiterou que o Exército hondurenho não voltará a protagonizar rupturas da ordem constitucional.

As eleições gerais realizadas em Honduras em 30 de novembro de 2025 ocorreram em meio a uma disputa multipartidária tensa e acusações prévias de interferência estrangeira e fragilidade institucional, com três candidatos principais disputando a Presidência.

Antes e durante o processo eleitoral, o ambiente foi marcado primeiro por denúncias de manobras da direita para alterar os resultados e sabotar as eleições e, depois, por denúncias de irregularidades técnicas e atrasos prolongados na contagem dos votos, com inconsistências relatadas em cerca de 14-15% das actas, o que obrigou a uma verificação especial de milhares de registos para confirmar os resultados finais.

As autoridades eleitorais hondurenhas atribuíram parte da lentidão a «erros técnicos», situação que gerou incerteza e protestos em várias regiões do país.

Trump apoiou publicamente Nasry Asfura na recta final da campanha, uma intervenção que foi incomum na política regional e que incluiu avisos de possíveis cortes na ajuda a Honduras se o seu candidato preferido não fosse vitorioso, além de comentários duros contra outros candidatos.

Esse apoio foi interpretado por sectores da esquerda hondurenha e outros observadores como uma intromissão política directa no processo eleitoral. A candidatura de Rixi Moncada, ex-ministra da Defesa e candidata do Partido Libre, representava a continuidade do projecto progressista no poder. O terceiro lugar que ela ocupava na contagem de votos fraudulenta foi qualificado por ela mesma e pela liderança do Libre como um resultado afectado por manipulações do sistema eleitoral e por pressão política externa.

Moncada e o seu partido exigem a anulação da contagem e uma recontagem voto a voto em todas as mesas eleitorais, alegando falhas no sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP) e uma «adulteração» da vontade popular, denúncias que foram formalmente apresentadas ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

O prolongado atraso na publicação dos resultados e as acusações cruzadas de fraude, falhas técnicas do sistema e pressões políticas internas e externas mergulharam o país numa fase de disputa pós-eleitoral, com protestos nas ruas e reivindicações de transparência e resgate da confiança democrática.

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