Um diplomata com licença para mentir
Perante o circo típico de uma certa imprensa de Miami, Mike Hammer, o Encarregado de Negócios da Embaixada dos Estados Unidos em Cuba, reimprimiu as velhas frases do manual de política anti-cubana de ingerência, escrito para personagens do seu género
O representante máximo dos Estados Unidos em Cuba, Mike Hammer, apareceu em Miami com um guião digno de um melodrama de sábado à noite: “A revolução cubana fracassou”, disse ele, com uma confiança espantosa.
Crise generalizada, paralisação dos transportes, apagões – enumerou-os todos, sem perder o sorriso por um segundo -, penúria, falta de medicamentos…
Mas atenção, isto não tem nada a ver com as sanções de Washington, com mais de 60 anos de guerras multiformes, incluindo a utilização de agentes patogénicos para danificar as colheitas e fazer adoecer a população.
Também não tem a ver com o terrorismo, com os actos de sabotagem contra a nossa indústria, contra os nossos navios mercantes e de pesca….
Negar o impacto do bloqueio é algo que os diplomatas ianques e a imprensa ao serviço dos interesses de Washington fazem com absoluto descaramento.
“Saio para me encontrar com as pessoas, como fiz noutros países. Não há nada na Convenção de Viena que o impeça”, disse o “solidário” Mike, que, naturalmente, esqueceu que este tratado internacional proíbe qualquer tipo de ingerência nos assuntos internos de outras nações, mesmo que disfarçada de “contactos abertos”.
Com ar de intervencionista, o diplomata insistiu na tese de que os seus encontros com “o povo cubano” são actos de solidariedade.
Hammer transformou magicamente a ingerência, o intervencionismo e o apoio de mercenários do seu governo, para violar a vontade da maioria dos cubanos, em actos de altruísmo e de amor.
Se um diplomata cubano fizesse o mesmo nos EUA, teria certamente um bilhete de regresso imediato à ilha.
Mas o mais hilariante é quando Hammer fala de “apoio ao povo” ao mesmo tempo que celebra políticas que bloqueiam remessas, confiscam pagamentos, afastam mantimentos e dificultam a vida quotidiana dos habitantes das Grandes Antilhas.
Foi tudo um acto de malabarismo retórico para disfarçar a mão pesada, a pressão final para matar à fome um povo inteiro.
E o que dizer da narrativa da migração?
Segundo Hammer, todos os cubanos querem viver nos Estados Unidos porque amam a sua cultura e procuram ter sucesso na terra da “liberdade” e das “grandes oportunidades”.
É claro que esta emigração não tem nada a ver com a crise induzida pelo próprio bloqueio e a asfixia económica.
Não menciona que o bloqueio proíbe as operações bancárias internacionais, penaliza os navios que atracam nos portos cubanos, dificulta a compra de combustíveis e alimentos, prejudica os serviços de educação, baixa o valor dos salários, desencorajando o emprego dos jovens.
A agressão psicológica permanente e a desinformação escurecem os horizontes de alguns que se deixam seduzir por cantos de sereia e procuram noutros lugares a sua realização pessoal.
Em suma, Mike Hammer não foi a Miami para dar uma conferência de imprensa séria, mas para dar um espectáculo.
A sua missão está escrita no manual da ingerência, não é nada criativa e foi tantas vezes repetida ao longo da história – recordemos os embaixadores ianques da pseudo-república necolonial – que há muito passou de tragédia a comédia de mau gosto.
Fonte:
Autor:
Raúl antonio Capote
Raúl Antonio Capote Fernández (Havana, 1961) é um escritor, historiador, professor, investigador e jornalista cubano. Jornalista, chefe de redacção do Granma Internacional

