Trump, O ‘Petróleo Roubado’ E a Geopolítica do Absurdo: Porque os EUA Nunca Aceitarão a Soberania Venezuelana
🚨 Introdução: Quando o Império Acusa a Vítima de Ladra
“Donald Trump atingiu um novo nível de cinismo geopolítico: acusar a Venezuela de ‘roubar petróleo aos Estados Unidos’. A afirmação, tão falsa quanto ridícula, revela porém uma verdade profunda: para o império, a soberania dos povos do Sul é, em si mesma, um ‘roubo’. Porque se um país pobre controla os seus próprios recursos, o que restará para os amos tradicionais do mundo? Como assinala Maria Luiza Falcão na Revista Forum, estamos perante a ‘volta do imperialismo’ com uma linguagem descarada de pilhagem.”

📉 1. Os ‘Dados’ de uma Mentira Desesperada
A Venezuela não extrai uma única gota de petróleo em águas ou território estadunidense. A produção venezuelana concentra-se na Faixa Petrolífera do Orinoco e na bacia do Lago de Maracaibo, ambas em território soberano.
Os EUA importam petróleo venezuelano há décadas — quando lhes convém. O “roubo” é, na realidade, comércio bilateral, agora interrompido pelas… sanções unilaterais dos EUA.
A acusação de Trump nem sequer aparece em relatórios das suas próprias agências (Departamento de Energia, EIA). É pura invenção eleitoralista, amplificada por meios como a BBC, que repetem a criminalização sem verificar os factos.
🗺️ 2. A Verdadeira Agenda: O Orinoco na Mira
Trump não fala de “petróleo roubado” por engano. Fá-lo porque:
A Venezuela tem as maiores reservas provadas do mundo (304 mil milhões de barris).
Essas reservas estão na sua maior parte por explorar, e Rússia, China e Irão estão a colaborar com a PDVSA para as desenvolver.
O objectivo real é justificar uma escalada (bloqueio naval, sanções mais duras) para sufocar os acordos soberanos e forçar uma privatização.
“É a Doutrina Monroe 2.0: o que está no ‘teu quintal’ é meu, e se o usas sem a minha permissão, estás a ‘roubar’. Como analisa Falcão, ‘não se trata de petróleo roubado, mas de petróleo não controlado’ — o projecto de reocupação económica que as petrolíferas perderam em 1976.”
📜 3. História de um Saque Anunciado: Da Nacionalização à Ameaça de Recolonização
1976: A Venezuela nacionaliza o seu petróleo. Segundo La Gran Aldea, foi “meio século de soberania energética” que quebrou o controle das multinacionais. O Diario Vea recorda o “acalorado debate doutrinário no Parlamento venezuelano” que culminou na decisão histórica: “o petróleo é nosso”.
Desde então, Washington nunca perdoou esta autonomia. Como reconhece até o conservador Real Instituto Elcano, sob Hugo Chávez houve um “ressurgimento do nacionalismo energético” que consolidou a PDVSA como instrumento de política soberana.
2024: Trump ameaça “trazer de volta empresas estadunidenses”, ou seja, reverter a nacionalização e recolonizar o sector energético venezuelano. É a mesma lógica que o Elcano, em análise enviesada, chama de “pilhagem” da PDVSA — acusando a vítima do saque que ela própria sofreu.
🛡️ 4. A Resposta Venezuelana: Soberania Para Além do Crude
Perante esta campanha, a Venezuela responde com uma estratégia multidimensional:
Acelera acordos com potências alternativas (Rússia, China, Irão) para tecnologia e financiamento, superando os supostos “limites da petropolítica” que o Elcano aponta — limites agravados pelo bloqueio, não pelo modelo soberano.
Diversifica a sua produção para derivados e petroquímicos, reduzindo a dependência da exportação de crude bruto.
Denuncia perante a ONU a “economia de guerra” imposta pelos EUA, enquanto fortalece a PDVSA estatal como símbolo de soberania energética, tal como se consolidou após a nacionalização de 1976 — hoje recordada como “a faísca que acendeu a chama da soberania” (Ministério da Cultura da Venezuela).
💥 Conclusão: O Petróleo é Apenas a Desculpa, o Objetivo é a Rendição
“A acusação de Trump não é um erro factual. É um tiro de advertência: ‘Ou entregas o teu petróleo, ou destruímos-te’. Porque na lógica imperial, um recurso nas mãos de um povo soberano é um ‘roubo’ à ordem natural das coisas — uma ordem onde Washington manda, e o Sul obedece.
Mas os próprios documentos do Real Instituto Elcano revelam a verdadeira ansiedade por trás desta retórica: o medo de que um país do Sul ‘altere o equilíbrio energético global’, como escreveram sobre Chávez. Sim, alterou. Alterou a favor dos pobres, da soberania, da dignidade. E isso, para o império, é um crime imperdoável.
*Por isso, quando Trump acusa, a Venezuela responde com a memória da sua nacionalização e a força das suas alianças soberanas. Porque, como disse Chávez: ‘O nosso petróleo já não se chamará crude, chamar-se-á dignidade’. E essa dignidade, forjada em 1976 e defendida hoje perante as ameaças de bloqueio, não está à venda.’”
🔗 Fontes Consultadas:
Falcão, M. L. (2025). “Petróleo, Poder e Pilhagem: Trump, Venezuela e a Volta do Imperialismo”. Revista Forum.
“Medio siglo de la nacionalización petrolera”. La Gran Aldea.
“Se nacionaliza el petróleo en Venezuela”. Ministerio del Poder Popular para la Cultura.
“Tal día como hoy: la nacionalización del petróleo encendió controversia doctrinaria”. Diario Vea.
Real Instituto Elcano (série: “Hugo Chávez y el futuro del petróleo venezolano”).
Dados técnicos: OPEC Annual Statistical Bulletin, EIA.

Autor:
Paulo Jorge Da Silva, editor da página Cuba Soberana. Comunista internacionalista, anti-imperialista e solidário com a Revolução Cubana e Bolivariana e luta dos povos pela soberania.

